Ela era uma dessas mulheres cheias de opinião. Uma mulher inteligente. Até meio feminista. Estávamos juntos já há algum tempo. Ela trabalhava logo cedo, aí pelas nove horas. Eu, só à tarde.
Numa dessas manhãs, estava na cama, deitadão, enquanto ela se vestia. Fiquei observando. Gosto de observar as mulheres quando elas se vestem de manhã. Afofei o travesseiro, juntei as mãos atrás da nuca e pus-me em feliz contemplação.
Ela assestou a calcinha e mirou-se no espelho para conferir o resultado. Pareceu aprovar o que viu. Eu também. Depois, calçou os sapatos, uma sandália de tiras. Exatamente assim, em cima das sandálias e dentro da calcinha mínima, ela foi até o armário e escolheu um vestido. E botou aquele vestido.
Um vestido pequeninho. Mas pequeninho! Só para ter idéia: as rendas da calcinha ficavam de fora. Dei um pulo na cama. Falei sem pensar, num impulso, eu que nem sou de falar essas coisas para uma mulher. Mas falei. Falei mesmo. O seguinte:
— Tu não vais sair assim!
Ela parou. Me olhou:
— Como é que é?
Não recuei. Tinha ido longe demais. Não ia voltar atrás. Confirmei:
— Tu não vais sair assim!
Ela sorriu:
— Por que não?
E eu:
— Porque eu não quero! Imagina: as tuas calcinhas estão aparecendo! Todo mundo vai ver as rendas da tua calcinha! Não vai!
— Não vou por que tu não quer, é isso?
Não podia mais voltar daquele ponto. Confirmei:
— Exatamente! Não vai porque eu não quero!
Naquele momento, pensei: ela é uma mulher inteligente, cheia de opinião, não vai admitir meu veto. Vamos ter sérios problemas, agora. Vamos discutir, vamos brigar, vai ser medonho.
Mas não. Ela abriu um sorriso cheio de dentes, uns 80 dentes, sentou-se na beira da cama, pegou minha mão e a pôs entre as mãozinhas macias de creme Nívea. E miou:
— Foi a coisa mais linda que tu já me disseste...
Depois, trocou de roupa toda faceira e se foi sorrindo. Fiquei lá, deitado na cama, perplexo, mas compreendi: com as mulheres, realmente, a gente precisa saber o que quer.
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