Crise Financeira - Tire suas dúvidas
Se eu quero importar um produto diretamente, faço isso agora? Espero?
A decisão depende da cotação do dólar. Como é difícil prever se a moeda vai se valorizar ou perder força nos próximos dias, é uma opção sujeita a risco. Uma coisa é certa: a moeda não voltará tão cedo ao patamar de R$ 1,60.
Se os produtos importados estão mais caros, quer dizer que as empresas podem aumentar os preços no Brasil também?
Sim. Mas o desaquecimento da economia pode fazer com que evitem o aumento de preços para incentivar o consumo.
Se a inflação pode aumentar, o Copom vai elevar o juro também?
Provavelmente. Mas não existe consenso de que haverá aumento de preços. O Copom já vinha aumentando os juros e pode julgar que novos reajustes seriam um remédio amargo demais quando a economia mundial se desacelera. No curto prazo, economistas acreditam que o Banco Central pode segurar eventuais aumentos na taxa para evitar uma freada forte do consumo. Ou, no mínimo, tende a reduzir o ritmo de alta inicialmente previsto.
Vou viajar para o Exterior. Compro dólar, euro ou uso o cartão de crédito?
O melhor é usar os dois métodos para diluir o risco. Leve parte em dinheiro vivo e utilize o cartão de crédito. Quando você compra com o cartão de crédito no Exterior, a conversão do dólar e do euro para o real é feita no dia do pagamento da fatura, e não no dia da compra. É difícil prever qual será a cotação. Para comprar moeda estrangeira agora, o melhor é trocar um pouco por dia até a data da viagem. Assim, é possível obter uma cotação média.
É hora de entrar ou sair da bolsa?
Entrar é muito arriscado e recomendado apenas para especialistas. Mas o atual momento pode apresentar oportunidades já que papéis de empresas sólidas estão com preço baixo. Pode ser um bom momento de entrar na bolsa para quem tem dinheiro e condições de fazer apostas arriscadas, além de sangue frio para manter o dinheiro parado por meses ou anos até a recuperação das ações. Quem já está no mercado deve avaliar se a carteira está lucrando ou perdendo em relação ao investimento inicial. Se os papéis estiverem apresentando prejuízo, o indicado é esperar até que se recuperem.
Por que os bancos brasileiros são mais seguros que os americanos?
Porque não compraram os títulos podres que estão levando os bancos estrangeiros à falência. Isso ocorreu por que as instituições brasileiras preferiram apostar em papéis sólidos como títulos do governo, que apresentam retorno alto e com muito menos risco. Além disso, os lucros dos bancos brasileiros são invejáveis, mesmo com operações consideradas conservadoras para os padrões de Wall Street e, em razão disso, não sentiram necessidade de fazer as apostas arriscadas que levaram o sistema financeiro americano ao colapso.
Os bancos do mundo oriental e árabe, que têm muito dinheiro, não podem ocupar o papel de Wall Street e injetar recursos no Ocidente?
Dificilmente. Esses bancos e fundos não sofrem de falta de recursos. O principal problema do sistema financeiro europeu e americano é a falta de confiança. Mesmo com dinheiro, árabes e asiáticos (e até instituições da América Latina) não vão correr riscos adicionais para interferir numa crise estrangeira.
Se as bolsas se estabilizarem, quer dizer que a crise passou?
Não. A crise não está na Bolsa de Valores. O mercado de capitais apenas reflete alguns dos problemas. As bolsas estão caindo porque bancos enfrentam dificuldades de honrar compromissos e precisam vender ações para cobrir prejuízos e pagar dívidas. Mesmo que o mercado fique estável ou suba por algum tempo, o problema de falta de liquidez dos bancos vai continuar. Mas, se novos problemas surgirem, é provável que a bolsa volte a cair.
Quando a crise é no Brasil, na América Latina ou na Europa, o real se desvaloriza, e o dólar sobe. Quando a crise é nos Estados Unidos, o real se desvaloriza, e o dólar sobe, porque ?
O real cai frente ao dólar (e euro, entre outras moedas fortes) sempre que há turbulência nos mercados devido aos temores dos investidores. Não importa onde seja a crise, o mercado de câmbio sempre será o primeiro a acusar o clima de incertezas. Uma crise nos Estados Unidos, porém, pode ter impacto sobre a produção no Brasil. O país no epicentro da crise é um dos principais compradores de produtos nacionais, o que interfere no ingresso de recursos, no nível de emprego e, conseqüentemente, no crescimento econômico. Além do mais, o dólar ainda é a moeda mais utilizada no comércio internacional. E, nos últimos dias, vem se recuperando de forma acentuada perante o euro. Pela cotação atual, são necessários US$ 1,38 para comprar um euro. Meses atrás, a moeda única da Europa chegou ao máximo de US$ 1,60.
Fontes: Marcelo Portugal, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Scherer, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Estado, Ricardo Araújo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Henrique Campos, diretor de auditoria da BDO Trevisan, e Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).