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Idolos

Categorias | Postado em 07:30

Joe Louis trabalhava em uma fazenda do Alabama. Quando se sentia entediado, escolhia algum dos touros do lugar e lhe desferia um murro entre os chifres. Tão poderoso era o soco de Joe Louis que o touro bambeava e, blof, caía desmaiado. Um dia, um esperto empresário do mundo do boxe viu Joe Louis fazer esse número e, impressionado, o convidou para repeti-lo. Só que, em vez de esmurrar touros no campo, Louis ia espancar homens nos ringues. Ele topou e, em pouco tempo, tornou-se campeão mundial.

Joe Louis só foi superado como ídolo do boxe por Rocky Marciano, provavelmente o maior pugilista da história, o homem que inspirou Silvester Stallone na seqüência de Rockys do cinema. Rocky Marciano nunca foi derrotado e nunca empatou uma luta. Venceu todos os seus 49 confrontos, 90% deles por nocaute. Rocky Marciano derrotou inclusive Joe Louis. Mas foi um Joe Louis envelhecido, cansado, sem a velha potência dos socos capazes de pôr feras para dormir.

Depois de nocautear Joe Louis, Rocky Marciano esperou que ele se reerguesse e foi cumprimentá-lo.

— Você é meu ídolo — confessou, estendendo-lhe em admiração a mão que o derrubara.

Era bela a história do boxe, o esporte mais marginal de todos os esportes.

Hoje, o boxe acabou. Quando os americanos liquidaram com Mike Tyson, liquidaram com o boxe. É muito difícil um esporte sobreviver sem ídolos, e Mike Tyson foi o último grande ídolo do boxe. Não existe mais um Rocky Marciano, não existe um Joe Louis. Quem havia era Mike Tyson, mas Mike Tyson era marginal demais até para o boxe. Negro, egresso dos bairros pobres de Nova York, mal-educado, tosco, agressivo, desajustado, os americanos não podiam suportá-lo. Não o suportaram. Acabaram com ele.

O futebol brasileiro, na prática, não tem mais ídolos. Os grandes jogadores, os jogadores de Seleção, os craques estão todos na Europa.

Como o futebol brasileiro consegue sobreviver?

Aí está: por causa dos clubes.

O torcedor ama o clube. Mais até do que ama o futebol. Os clubes é que sustentam o futebol brasileiro e o brilho do futebol europeu. Os clubes, tão vilipendiados, tão maltratados, tão desprezados pela CBF. Enquanto os clubes vicejarem, vicejará o futebol brasileiro. Mas por quanto tempo os clubes agüentarão seleções sub-qualquer coisa, pirataria européia, Lei Pelé, por quanto tempo? A sobrevivência do futebol brasileiro é um milagre do amor do torcedor.

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