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Contos - O Bom Marido

Categorias , , , | Postado em 10:52

O bom marido não volta mais cedo

Se você é marido deve saber que o bom marido não volta mais cedo para casa. O bom marido compreende as possíveis conseqüências desse gesto aparentemente singelo. Você, o bom marido, entende que pode muito bem flagrar um sujeito esgueirando-se à socapa do seu apartamento e, ao entrar no quarto, no recôndito sagrado da intimidade conjugal, pode deparar com sua esposa nua e arquejante sobre a cama desfeita, os lençóis ainda mornos de amor.

Sim, isso pode acontecer, se você, o bom marido, cometer a imprudência de voltar mais cedo para casa.

Foi o que se deu com o italiano Giuseppe Pistone. Nos anos 20, ele e a mulher, Maria Féa, atravessaram o Atlântico desde a Itália para fazer a América em São Paulo. Maria Féa era loirinha, pequena, frágil e atraente como uma boneca de porcelana. Uma manhã, Pistone saiu mais cedo do trabalho e decidiu antecipar o almoço. Ocorreu o descrito acima. Pistone viu um sujeito vestido de terno branco, carregando na mão um chapéu tipo palheta, caminhando apressado nas cercanias da sua casa. Ao entrar, encontrou Maria Féa seminua, deitada na cama, lânguida como uma gueparda ao meio-dia. Entendeu tudo. Pulou sobre ela e a estrangulou. Mais tarde, contou como o fez:

– Louco de espanto e dor, porque não a apertei mais do que um só minuto, deitei minha Mariuccia sobre o leito, cobrindo-a de beijos. Passei toda a noite com sua loira cabecinha entre meus braços.

Depois, Pistone saiu, comprou uma mala de bom tamanho, acomodou o cadáver nela, fechou-a e a remeteu para o Porto de Santos, endereçada à Itália. Este foi o “Crime da Mala”, um dos mais famosos assassinatos da crônica policial brasileira. Maria Féa jaz enterrada no Cemitério da Filosofia, em Santos. Até hoje seu túmulo é visitado por pessoas que acreditam ter ela se transformado em santa milagreira. Pistone terminou preso, julgado e condenado a 31 anos de reclusão. Cumpriu 16, saiu por um decreto presidencial em 1944 e cinco anos depois casou-se com uma faxineira que conheceu na prisão. Morreu em 1958, de problemas cardíacos. Quando os parentes foram recolher seus pertences, tiveram uma surpresa: dentro do travesseiro sobre o qual ele repousava a cabeça todas as noites havia um volume. Abriram-no. E descobriram a foto do casamento de Pistone com Maria Féa.

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